sábado, 19 de maio de 2007

Cantinho da História -- parte XVI

"A Grande Depressão"


A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande recessão económica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada a pior e o mais longo período de recessão económica do século XX. Este período de recessão económica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de acções, e em praticamente todo medidor de actividade económica, em diversos países no mundo.
O dia 29 de Outubro de 1929 é considerado popularmente o início da Grande Depressão. Porém, as taxas na queda da produção industrial americana já haviam começado a cair a partir de Julho do mesmo ano, causando um período de leve recessão económica que estendeu-se até 29 de Outubro, quando valores de acções na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange, caíram drasticamente, desencadeando a Quinta-Feira Negra. Assim, milhares de accionistas perderam, literalmente, da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham. Esta quebra na bolsa de valores
de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando grande deflação e queda nas taxas de venda de produtos, que por sua vez obrigaram o fechamento de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando assim drasticamente as taxas de desemprego.
Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como sua intensidade, variaram de país a país. Outros países, além dos Estados Unidos, que foram duramente atingidos pela Grande Depressão foram a Alemanha, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e especialmente o Canadá. Porém, em certos países pouco industrializados à época, como a Argentina e o Brasil, a Grande Depressão acelerou o processo de industrialização.
Os efeitos negativos da Grande Depressão atingiram seu ápice nos Estados Unidos em 1933. Neste ano, o Presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou uma série de medidas conhecidas como New Deal. Essas políticas económicas, adoptadas quase simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar Schaact na Alemanha nazista foram, 3 anos mais tarde, racionalizadas por Keynes em sua obra clássica.
O New Deal, juntamente com programas de ajuda social realizados por todos os estados americanos, ajudaram a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933. A maioria dos países atingidos pela Grande Depressão passaram a recuperar-se economicamente a partir de então. Em alguns países, a Gr
ande Depressão foi um dos factores primários que ajudaram a ascensão de regimes de extrema-direita, como os nazistas comandados por Adolf Hitler na Alemanha. O início da Segunda Guerra Mundial terminou com qualquer efeito remanescente da Grande Depressão nos principais países atingidos.
Economistas, historiadores e cientistas políticos têm criado diversas teorias para a causa, ou causas, da Grande Depressão, com surpreendente pouco consenso. A Grande Depressão permanece como um dos eventos mais estudados da história da economia mundial. Teorias primárias incluem a quebra da bolsa de valores de 1929, a decisão de Winston Churchill em fazer com que o Reino Unido passasse a usar novamente o padrão-ouro em 1925, que causou massiva deflação ao longo do Império Britânico, o colapso do comércio internacional, a aprovação do Ato da Tarifa Smoot-Hawley, que aumentou os impostos de cerca de 20 mil produtos no país, a política da Reserva Federal dos Estados Unidos da América, e outras influências.
Segundo teorias baseadas na economia capitalista concentram-se no relacionamento entre produção, consumo e crédito, estudado pela macroeconomia, e em incentivos e decisões pessoais, estudado pela macroeconomia. Estas teorias são feitas para ordenar a sequência dos eventos que causaram eventualmente a implosão do sistema monetário do mundo industrializado e suas relações de comércio. Já teorias baseadas na economia marxistas concentram-se no relacionamento do controle da produção e da concentração de renda. Para os marxistas, a Grande Depressão é o tipo de crise a que o capitalismo é vulnerável, e ocorrências deste tipo não são surpreendentes.
Outras teorias heterodoxas sobre a Grande Depressão foram criadas, e gradualmente estas teorias passaram a ganhar credibilidade. Estas teorias incluem a teor
ia da actividade de longo ciclo e que a Grande Depressão foi um período na intersecção da crista de diversos longos e concorrentes ciclos.
Mais recentemente, uma das teorias mais aceitas entre economistas é que a Grande Depressão não foi causada primariamente pela quebra das bolsas de valores de 1929, alegando que diversos sinais na economia americana, nos meses, e mesmo anos, que precederam à Grande Depressão, já indicavam que esta Depressão já estava o caminho nos Estados Unidos e na Europa. Actualmente, a teoria mais em voga entre os economistas é de Peter Temin. Segundo Temin, a Grande Depressão foi causada por política monetária catastroficamente mal planejada pela Reserva Monetária dos Estados Unidos da América, nos anos que precederam a Grande Depressão. A política de reduzir as reservas monetárias foi uma tentativa de reduzir uma suposta inflação, o que de fato somente agravou o principal problema na economia americana à época, que não era a inflação e sim a deflação.
Em 24 de Outubro de 1929, os preços das acções na Bolsa de Valores de Nova Iorque caíram subitamente. Estes preços estabilizaram-se ao longo do final de semana, para caírem drasticamente novamente na segunda-feira, 28 de Outubro. Muitos accionistas passaram a entrar em pânico. Cerca de 16,4 milhões de acções subitamente entraram à venda na terça-feira, 29 de Outubro, dia actualmente conhecido como Quinta-Feira Negra. O excesso de acções à venda e a falta de compradores fizeram com que os preços destas acções caíssem em cerca de 80%. Com isto, milhares de pessoas perderam grandes somas em dinheiro. Os preços destas acções continuaria a flutuar, caindo gradativamente nos próximos três anos. Os milhares de pessoas que tinham todas as suas riquezas na forma de acções eventualmente perderiam tudo o que tinham.
Em 17 de Maio de 1930, o governo dos Estados Unidos aprovou uma lei, o Ato Tarifário Smoot-Hawley, que aumentava as tarifas alfandegárias em cerca de 20 mil itens não-perecíveis estrangeiros. O Presidente americano Herbert Hoover pedira ao Congresso uma diminuição nos impostos, mas o Congresso, ao invés disto, votou a favor do aumento dos impostos. Um abaixo-assinado, assinado por mil economistas, pediu ao presidente americano rejeitar este aumento. Apesar disto, Hoover assinou o Ato em 17 de Maio. O Congresso e o Presidente acreditavam que isto iria reduzir a competição de produtos estrangeiros no país. Porém, outros países reagiram através da aprovação de leis e actos semelhantes, assim causando uma queda súbita nas exportações americanas. As taxas de desemprego subiram de 9% em 1930 para 16% em 1931, e 25% em 1933. Durante a década de 1930, a taxa de desemprego nos Estados Unidos não retornaria mais às taxas de 9% de 1930, se mantendo em perto da casa dos 20%.
Com o crescente fechamento de instituições bancárias, menos fundos estavam disponíveis no mercado americano, fazendo com que a queda na produção industrial americana continuasse a cair. Em 1929, o valor total dos produtos industrializados fabricados nos Estados Unidos foi de 104 biliões de dólares. Em 1933, este valor havia caído para 56 biliões, uma queda de aproximadamente 45%. A produção de aço caiu em cerca de 61%, entre 1929 e 1933, e a produção de automóveis caiu em cerca de 70% no mesmo período.
1933 Foi o ápice da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. As taxas de desemprego
eram de 25% (ou um quarto de toda a força de trabalho americana). Cerca de 30% dos trabalhadores que continuaram nos seus empregos foram obrigados a aceitar reduções em seus salários, embora grande parte dos trabalhadores empregados tenham tido um aumento nos seus salários por hora. Outro problema enfrentado foi a grande deflação - queda do preço dos produtos e custo de vida em geral. Entre 1929 e 1933, os preços dos produtos industrializados não-pericíveis em geral nos Estados Unidos caíram em cerca de 25%. Já o preço de produtos agro-pecuário caiu em cerca de 50%, por causa do excedente da produção destes produtos - primariamente trigo. A quantidade destes produtos à venda excedia facilmente a demanda, o que causou uma queda dos preços destes dados produtos. Os baixos preços levaram ao endividamento de muitos destes fazendeiros.
O New Deal (cuja tradução literal em português seria "novo pacto" ou "novo acordo") foi o nome dado à série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objectivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, e assistir aos prejudicados pela Grande Depressão. O nome dessa série de programas foi inspirado no Square Deal, nome dado pelo anterior Presidente Theodore Roosevelt à sua política económica.
Como resultado do New Deal foram criadas nos Estados Unidos dezenas de agências federais (equivalentes às autarquias, no direito administrativo brasileiro), as quais receberam o apelido irónico de alphabet agencies (agências alfabéticas), devido à profusão das siglas com que eram designadas: CCC (Civilian Conservation Corps), TVA (Tennessee Valley Authority), AAA (Agricultural Adjustment Administration), PWA (Public Works Administration), FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), SEC (Securities and Exchange Commission), CWA (Civil Works Administration), SSB (Social Security Board), WPA (Works Progress Administration), NLRB (National Labor Relations Board).
O New Deal teve grande influência na política económica e social adoptada no Brasil pelo Presidente Getúlio Vargas, por quem Franklin D. Roosevelt nutria grande admiração.
Na agricultura, o estado indemnizou os agricultores, que reduziram as suas áreas de cultivo para diminuir a produção, e concedeu créditos para pagamento de dívidas;...
Na indústria, foram fixados limites à produção e tabelaram-se os preços dos produtos, de modo a evitar-se as crises de "superprodução";
No sector financeiro, criou-se uma legislação para controlar a actividade da Bolsa e do sector bancário.
No domínio social, foi estabelecido o salário mínimo, reduziu-se o horário de trabalho de 40 horas semanais, e foram introduzidas medidas de protecção aos trabalhadores (subsídio de desemprego, doença, de velhice e de invalidez).
Para combater o desemprego, o governo promoveu grandes obras públicas, para a criação de barragens, estradas e pontes. Como essas medidas aumentaram em muito o custo da mão-de-obra a taxa de desemprego aumentou drasticamente e se estabilizou em torno de 20%.
Mas mesmo com todas essas medidas só foi durante a década de 1940 que a taxa de desemprego nos EUA ficou abaixo dos 15%, graças à inflação que foi gerada para levantar fundos para lutar a Segunda Guerra Mundial, que reduziu os salários, barateando a contratação de trabalhadores.
A Grande Depressão causou grande recessão económica em diversos outros países que não os Estados Unidos da América. Em muito destes países, a recessão provocada pela Grande Depressão gerou efeitos similares na economia destes países, como o fechamento de milhares de estabelecimentos bancários, financeiros, comerciais e industriais, e a demissão de milhares de trabalhadores.
Os efeitos da Grande Depressão em vários países foram agravados pelo Ato Tarifário Smoot-Hawley, um ato americano introduzido em 1930, que aumentava impostos a cerca de 20 mil produtos não-pericíveis estrangeiros, que causou a aprovação de leis e actos semelhantes em outros países, reduzindo drasticamente exportações e o comércio internacional.
Em vários dos países afectados, partidos políticos extremistas, de carácter nacionalista, apareceram. Outros partidos políticos, de cunho comunista, também foram criados. No Reino Unido, por exemplo, tanto o Partido Comunista quanto o Partido Fascista britânico receberam considerável suporte popular. O mesmo ocorreu com o Partido Comunista canadense.
Outros partidos políticos menos extremistas também surgiram. A grande maioria, se não todos, prometiam retirar o país (ou uma dada província/estado) da recessão. O Partido do Crédito Social do Canadá, de cunho conservador ganhou grande suporte popular em Alberta, província canadense severamente afectada pela Grande Depressão. Em alguns destes países, partidos extremistas foram proibidos, como no Canadá. Outros partidos políticos extremistas, porém, conseguiram chegar ao poder, notavelmente os nazistas na Alemanha e os fascistas na Itália.
Após o fim da Grande Depressão, muitos dos países mais severamente atingidos passaram a fornecer maior assistência social e económica aos necessitados. Por exemplo, o New Deal dava ao governo americano maior poder para fornecer esta ajuda para estes necessitados, bem como para aposentados.
A Grande Depressão gerou grandes mudanças na política económica em vários dos países envolvidos. Anteriormente à Grande Depressão, por exemplo, o governo dos Estados Unidos da América pouco intervinha na economia do país. Executivos financeiros e grandes magnatas comerciantes eram vistos como líderes nacionais. A Grande Depressão, porém, mudou as atitudes de diversas pessoas em relação ao comércio. Muitos passaram a favorecer maior controlo da economia do país por parte do governo. Outros grupos, mais extremistas, favoreciam a instalação de um regime comunista de governo.

1 comentário:

spring disse...

"Esplendor na Relva" é um dos filmes da nossa vida e pelas suas personagens passa "a grande depressão".
parabéns pelo texto:)***
paula e rui lima