domingo, 6 de maio de 2007

Sofrimento


Definitivo, como tudo o que é simples. A dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão boa, que gerou em nós um sentimento intenso e que fez nos companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos porquê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projecções não realizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos, não porque o trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para namorar.
Sofremos, não porque nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar a contar-lhe as nossas mais profundas angústias e ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos, não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está a ser-nos confiscado, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Iludindo-se menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, faz perder também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

(Carlos Drummond de Andrade)

1 comentário:

Anónimo disse...

Às vezes sofremos pelas coisas menos convencionais... podemos até sofrer por algo material a que nos apegamos de tal forma, que quando o perdemos, ficamos com a sensação de que perdemos não um mero objecto, mas sim um ente querido...