sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cantinho da História Universal -- parte XXI

"Guerra Civil Espanhola"




A chamada Guerra Civil Espanhola foi um conflito bélico deflagrado após um fracassado golpe de estado de um sector do exército contra o governo legal e democrático da Segunda República Espanhola. A guerra civil teve início em 17 de Julho de 1936 e terminou em 1° de Abril de 1939, com a vitória dos rebeldes e a instauração de um regime ditatorial de carácter fascista, liderado pelo general Francisco Franco.
A economia espanhola teve um crescimento rápido desde o final do século XIX até ao início do século XX. Em especial, as indústrias mineiras e metalúrgicas lucraram e expandiram-se enormemente durante a Primeira Guerra Mundial, fornecendo insumos a ambos os lados. Mas os resultados desse crescimento não se reflectiram em mudanças nas condições sociais. A agricultura, continuou em mãos de latifundiários, que deixavam grandes extensões de terra sem cultivar. Mantinha-se uma forte presença da Igreja Católica, que se opunha às reformas sociais e se alinhava aos interesses da elite agrária. A monarquia apoiava-se no poder militar para manter o seu regime. O fim da monarquia e o advento da república, em 1931, em nada mudou esta configuração política básica, com a agravante de que Igreja e Exército se mantiveram monárquicos e as tentativas de golpe tornaram-se constantes.
Com a renúncia do ditador Primo de Rivera após uma onda de escândalos de corrupção, o rei Alfonso XIII procurou restaurar o regime parlamentar e constitucional. Foram convocadas eleições em Abril, Junho e Dezembro de 1931. Nas ultimas eleições a esquerda sai vitoriosa. Alcalá Zamora é eleito presidente da República e encarrega Manuel Azaña de organizar um governo. O governo da República não consegue avançar na resolução da questão das autonomias regionais, nem no encaminhamento da questões agrária e trabalhista. Na questão religiosa, a governo Azaña cedeu moderadamente ao espírito anticlerical que predominava no parlamento, através da dissolução da Companhia de Jesus na Espanha, ficando preservadas as demais ordens religiosas, que no entanto foram proibidas de dedicar-se ao ensino. Comprimido entre a direita e a Igreja - que viam a laicização do Estado e da educação de maneira muito negativa - e a esquerda e os anarquistas - os quais consideravam as mesmas reformas insignificantes - o governo Azaña é incapaz de agradar a população.
Como economia predominantemente agrário exportadora, a Espanha havia sido pouco atingida pela Crise de 1929: o desemprego era pequeno e o salário médio por dia trabalhado havia aumentado significativamente nos primeiros anos da Segunda República.

Em maio de 1931, os anarquistas incendiaram a Igreja dos Jesuíta Calle de la Flor, no centro de Madrid. Em Agosto de 1932, o general monarquista Sanjurjo tenta dar um golpe, mas fracassa. Condenado à morte, é depois indultado, continuando a conspirar na prisão.
Em 1933, a recusa dos anarquistas em dar apoio aos partidos de esquerda e sua propaganda pela "greve do voto" permitem a vitória eleitoral da direita, representada pela Confederação das Direitas Autónomas (CEDA) de José Maria Gil Robles. Segue-se uma insurreição da esquerda, que foi mal sucedida em toda a Espanha, menos nas Astúrias, onde os operários dominaram Gijón por 13 dias. Este evento ficou conhecido como Comuna das Astúrias.
Com milhares de militantes feitos prisioneiros, os anarquistas decidem apoiar a esquerda nas eleições de 1936. Espera-se que o novo governo lhes conceda amnistia. A esquerda vence em 16 de Fevereiro, com 4.645.116 votos, contra 4.503.524 da direita e 500 mil votos do centro, mas as particularidades do sistema eleitoral - que favorecia as maiorias - dão à esquerda a maioria das cadeiras no parlamento.
Alcalá Zamora encarrega Azaña de formar um governo. Em maio de 1936, Alcalá Zamora é destituído e Azaña assume a Presidência da República, tendo como seu primeiro-ministro o socialista Largo Caballero. A direita então lança-se a preparar um golpe militar que se concretiza em 18 de Julho.

Os rebeldes controlavam o Marrocos Espanhol, as Canárias (excepto a ilha de La Palma), as Baleares (excepto Minorca) e o oeste da Espanha continental. As Astúrias, a Cantábria, o País Basco e a Catalunha, assim como a região de Madrid e Múrcia, estavam nas mãos dos republicanos. Mas os rebeldes conseguem apoderar-se das cidades mais importantes da Andaluzia: Sevilha, Cádi, Granada e Córdoba.
Os rebeldes nacionalistas tomarem Badajoz, em Agosto de 1936, o que lhes permite organizar um frente coerente contra o campo republicano - estratégia esta, mais rotineira, adoptada por Franco, que preferiu apoiar-se primeiro sobre a fronteira do Portugal a tentar um avanço directo até Madrid, a partir do Sul.
A morosidade dos rebeldes e a acção das mil
ícias populares na defesa republicana fizeram com que o conflito assumisse, assim, um carácter ideológico e potencialmente revolucionário.
Uma vez tendo feito junção as forças rebeldes em Badajoz, inicia-se o avanço sobre Madrid, buscando-se encerrar a campanha o mais rápido possível.
Em 8 de Novembro começa a Batalha de Madrid, mas o lento movimento das forças rebeldes, que haviam levado três meses deslocando-se a partir de Sevilha, permite ao governo republicano estabilizar o frente em 23 do mesmo mês.
A resistência das Brigadas Internacionais republicanas frustra os planos das forças italianas e, mais uma vez, converte o que se pretendia como golpe de estado numa guerra civil de longa duração, em que o acirramento das paixões políticas internas era potencializado pela presença de contingentes militares estrangeiros, ideologicamente opostos, numa verdadeira guerra civil europeia, em que voluntários italianos fascistas e alemães nazistas, por exemplo, enfrentavam voluntários esquerdistas das mesmas nacionalidades.
A substituição do governo republicano de Largo Caballero pelo de Juan Negrín - que buscou apoiar-se, internamente, no Partido Comunista, e, externamente, na aliança com a União Soviética - deu conta do acirramento ideológico do conflito, mesmo no interior do campo republicano, levando aos incidentes de maio em Barcelona, de enfrentamento armado entre forças do governo e comunistas contra diversas milícias de Extrema Esquerda - anarquistas, trotskistas e semi-trotskistas -seguidos por uma cruel repressão policial à mesma Extrema Esquerda, sob o comando dos comunistas. Neste interím, o governo Negrín tenta substituir as milícias, tanto quanto possível, por um exército republicano regular, e lança, em Agosto, na frente de Aragão, uma ofensiva em Belchite, tentando aliviar a pressão sobre a frente Norte.A ofensiva fracassa; o lado republicano tinha menos armas modernas (blindados e aviões) do que o nacionalista, e, ao invés de combinar acções defensivas com a infiltração de guerrilheiros na retaguarda franquista.

Em Março de 1939, começa uma pequena guerra civil dentro do campo republicano, quando o Coronel Casado, comandante do Exército do Centro, dá um golpe de estado em Madrid, apoiado pelos oficiais de carreira (que acreditavam que "entre militares nos entenderemos melhor"), golpe este que tinha como objectivo a ruptura com os comunistas para facilitar negociações com os franquistas, enquanto o governo Negrín, partidário da continuação da resistência - e esperando que o estalar iminente da Segunda Guerra Mundial trouxesse novos apoios aos republicanos - refugia-se na chamada Posição Yuste.
Os franquistas, no entanto, exigem dos casadistas a rendição incondicional, e Madrid cai em 26 de março. Com a queda de Valência e Alicante em 30 de Março, e de Múrcia em 31, a guerra termina em 1o. de Abril.

Aliados à Igreja Católica, Exército e latifundiários, buscavam implementar um regime de tipo fascista na Espanha,o que consideravam mais condizente com a "originalidade espanhola (suas tradições políticas de raiz católica e autoritária).No entanto, o franquismo não foi fascista, se por tal entender-se um regime fundado numa base política de massa, na mobilização mais ou menos permanente dos seus partidários e no papel importante atribuído a certos grupos sociais emergentes: mesmo antes da queda dos regimes efectivamente fascistas, o regime acabou muito cedo por configurar-se como uma ditadura pessoal apoiada nos grupos dominantes tradicionais, muito semelhante nisto ao Portugal Salazarista.

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